23 fevereiro 2021

Bandoleiros

Quem assistiu ao documentário Doutor Castor, em exibição no Globoplay, deve ter ficado boquiaberto com a ousadia do crime organizado e suas relações promiscuas com as instituições. Só comparável com a máfia italiana ou com O Poderoso Chefão retratado em livro por Mario Puzzo e no cinema pelo genial Francis Ford Coppola.

Mas você está pensando que aquilo que está na literatura e no cinema só acontece no submundo? Como diria aquele nosso amigo baiano, “sabe nada inocente”. Vocês precisam conhecer os diálogos revelados pela apuração da Operação Spoofing e que mostram a bandidagem, promiscuidade e o crime organizado pelos componentes da Orcrim Lava a Jato.

Alguns jornalistas, aqueles mais comprometidos com a profissão, têm divulgado o “show de horrores”, verdadeiras ações criminosas cometidas por delegados, procuradores e juízes, autênticos Foras da Lei, que compuseram a Operação Lava a Jato.

Um exemplo disso foi a atuação da delegada da Polícia Federal, Erika Merena, que inclusive passou um tempo aqui em Sergipe, num caso que se revelou numa das mais infames operações da Lava a Jato: a invasão cinematográfica do campus da Universidade Federal de Santa Catarina, onde prendeu e humilhou professores e levou o reitor Luiz Carlos Cancellier ao suicídio.

Não foi só isso. A delegada cometeu crime pior. Segundo diálogos entre os comparsas da organização criminosa Lava a Jato, revelados pela Operação Spoofing, a delegada Merena forjou e assinou depoimento que jamais ocorreu e tudo com a anuência dos procuradores de Curitiba e o silêncio cúmplice de outros tantos pelo Brasil afora que participavam do famoso grupo no Telegram.

Vejam o que diz o sub chefe da quadrilha (o chefe era o juiz Sérgio Moro) Deltan Dallagnol. “Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada... Dá no mínimo uma falsidade... DPFs são facilmente expostos a problemas administrativos", afirmou o procurador. Na sequência seu colega, Orlando Martello Júnior alerta para o risco do descrédito. Sugere como saída convocar a testemunha para que faça um depoimento real. "Podemos conversar com ela e ver qual estratégia ela prefere", sugere, referindo-se à delegada.

Pensam que foi a única vez que a turma da Lava Jato cometeu essa barbaridade? Ledo engano. "O mesmo ocorreu com Padilha e outros", afirma Martello Jr. "Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes!!! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia que não vimos. Confiamos nos advs e nos colaboradores. Erramos mesmo!"....

Os "erros" de que fala o procurador são na verdade uma sequência de crimes. A delegada Érika Marena inventou um depoimento e o mesmo aconteceu com outras testemunhas (por ela e ou por outros delegados).

É o próprio Deltan quem afirma que isso é no mínimo falsidade ideológica, mas pode ser enquadrado em vários outros artigos. Junto com Marena, todos os procuradores que souberam desse absurdo e não denunciaram a delegada, prevaricaram e são cumplices do crime cometido por ela.

É esse o Brasil que temos hoje. Depois de um gigantesco esforço de gerações que lutaram - alguns até deram a vida - para termos uma nação livre do arbítrio e democrática, eis que surge um bando de gente paga pela sociedade para defender a liberdade e a legalidade, preocupado com vendetas e em proteger apenas os seus num tenebroso espirito de corpo.

Espera-se agora que aqueles que, por ingenuidade ou por mau-caratismo, confundiram justiçamento com justiça e viviam a aplaudir a Lava a Jato, acordem para realidade e parem de bater palmas para bandido dançar. Senão tratem de lavar suas mãos. Elas também estão sujas de sangue. 

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