O jornalista Jozailto Lima, em seu site JL Política, me fez uma provocação que, depois de muito pensar se valia a pena, eu resolvi aceitar. O experiente jornalista me cobra uma atitude sobre a posição do PT nas eleições das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado. Nessa cobrança Jozailto sugere falta de coerência - minha e de outros quadros petistas – e para isso argumenta com minha postura de oposição ao atual prefeito Edvaldo Nogueira nas eleições passadas.
Em primeiro lugar é preciso compreender a diferença entre as disputas citadas. Enquanto nas eleições municipais estavam em jogo os projetos de governo para toda a cidade e sua população, as eleições para as mesas da Câmara e Senado são interna corporis. Diz respeito a administração daquelas casas e obedecem a uma lógica própria da ocupação de espaço das bancadas.
Citarei dois exemplos para tentar ser mais claro. O primeiro eu fui buscar no longícuo ano de 1987 do século passado, na eleição para a mesa da Assembleia Legislativa de Sergipe, o PT com uma bancada de 02 deputados resolveu compor a chapa do governo Valadares que tinha como candidato a presidente o deputado Guido Azevedo. Como agora, também gerou muita polêmica. Muitos na imprensa e até no próprio PT diziam que Déda tinha se vendido a Valadares. Guido foi eleito presidente da ALESE, Marcelo Ribeiro (PT) eleito 1° secretário (segundo cargo mais importante da mesa) e Déda foi o mais competente e duro opositor ao governo que Sergipe já viu. Passado o tempo é possível avaliar a relevância de ter um homem da envergadura ética de Marcelo Ribeiro na mesa diretora da ALESE enfrentando as mazelas próprias daqueles tempos de tenebrosos trens da alegria e outras formas de locupletação.
O segundo exemplo é mais recente. Data de 2015 e remete a eleição da Câmara dos Deputados. A bancada do PT, tomado por esse mesmo udenismo que motiva o nobre jornalista, resolver bancar a candidatura do deputado Arlindo Chinaglia contra Eduardo Cunha. O resultado todos conhecemos. Chinaglia, como já era esperado perdeu, o PT ficou sem espaço na mesa e nas comissões deixando o caminho livre para Cunha articular sem nenhum obstáculo, o golpe que derrubou Dilma.
Então, amigos, votar no Baleia Rossi e no Pacheco para as presidências da Câmara e do Senado, não significa aliança com Bolsonaro. Não significa que Baleia, Rodrigo Maia e tantos outros tenham recebido indulto e que nós esquecemos o que eles fizeram no verão passado. Não. Significa o PT e a esquerda oposicionista ocuparem lugares estratégicos no comando daquelas casas. É a política com suas táticas e estratégias.
Portanto, sim, eu apoio a decisão das bancadas do PT na Câmara e no Senado. Parafraseando James Carville, é a política, estúpido.
Por fim, em relação a minha oposição a candidatura de Edvaldo nas eleições passadas, repito pela enésima vez, se deu por razões programáticas e não por causa de suas alianças. Aliás, o próprio Edvaldo corroborou minha crítica ao dizer no mesmo JL “não sou esquerda nem direita”, ou seja, se tornou um sem lado. Nunca critiquei Edvaldo por seus aliados, até porque, quase todos eles já foram nossos aliados um dia (aqui e alhures). A diferença é que eram aliados sob o nosso projeto político ideológico.
Ademais eu sou um aliancista convicto. Aprendi lendo a história. Aprendi lendo Guerra Civil e sobre a aliança de Júlio César/Crasso/Pompeu. Aprendi com a aliança do velho e bom Luiz Carlos Prestes com Getúlio (mesmo depois deste ter mandado sua companheira Olga para as câmaras de gás de Hitler). Aliança que possibilitou tirar o PCB da ilegalidade e abrir caminho para a eleição de uma bancada substantiva de deputados constituintes do Partido Comunista em 46. Aprendi com Lênin que dizia que a política não é uma linha reta como a avenida Nevski em São Petersburgo. Aprendi com Marcelo Déda que fez aliança com todo mundo, mas nunca mudou de lado e nunca perdeu o rumo. E o principal: ao contrário de muitos políticos contemporâneos, Cézar, Prestes, Lênin, Déda me ensinaram que política se faz com ideologia e cérebro, não com projetos pessoais e vísceras.
Quanto a mim, é possível que me vejam mudando de posição. É tático. Mas nunca me verão mudar de lado. É estratégico.
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