Era
ainda muito jovem quando aqui cheguei. Não pretendia ficar. Queria só estudar
mais um pouco e voltar para a roça. Mexer com a terra, plantar e colher a vida
calma do campo. Com saudades de casa subia no alto dos Capuchinhos e ficava a
olhar a cidade. Olhando fui aos poucos descobrindo suas curvas, seus segredos, o
contorno perfeito do seu belo rosto e ao sentir o cheiro de mangaba madura que
exalava do seu corpo, me apaixonei.
Apaixonado,
fui ficando. Morri de ciúmes quando vi o rio Sergipe, ousado, acariciar seu
dorso. Quando a fúria de um vendaval enciumado descobriu o lençol do seu velho
mercado, eu estava ali ao seu lado. Curtimos, bebemos e dançamos as tardes e
noites eternas da nossa paixão nas retretas da Praça Fausto Cardoso, nos hi fi
da Iara, nos embalos de sábado à noite na Aquários, Iemanjá e Tio Zé, nas
batidas do Manequito e no escurinho do Vitória, do Aracaju, do Pálace, do Rio
Branco. Ao som de Travolta e Tinha Charles, namorei as mocinhas nas festinhas
discothèque e, ouvindo Waldick Soriano, amei as meninas de Tia Vanda.
No
velho Batistão, empunhei a bandeira rubra do Mais Querido, compartilhei
arquibancadas, dividi lágrimas de alegria nas vitórias e recebi abraços solidários
dos vermelhinhos nas derrotas. Ao vestir o manto vermelho, adotei uma religião.
Ergui um altar e ali coloquei meus deuses Ailton, Zé Pequeno, Naninho, Duda,
Cipó, Rocha, Ricardo Alegria da Cidade, Giraldo, Onça e toda a geração de
Sandoval, Elenilson e cia que operou o milagre da multiplicação dos títulos.
Aqui
me fiz cidadão, idealizei um sonho e fui à luta. Fiz greve, lutei contra a
ditadura, pela redemocratização do meu país e ainda luto pela consolidação da
nossa tênue democracia. Aqui nasceram meus 05 filhos. Meu patrimônio mais caro.
Foi aqui que encontrei uma princesa, filha das águas, trazida pela força dos
mares verdes do Ceará, que fez do meu ninho um castelo, e o encheu de sorriso e
alegria, iluminando minha alma, aquecendo o meu corpo e apaziguando o meu
coração.
Dessa
forma, tal qual Ulisses em Ciclopes, fiquei preso por vontade a essa terra que
Inácio Barbosa concebeu a partir da costela de um dos rios que habitavam esse
paraíso em meio a araras e cajueiros. Como uma Jocasta, Aracaju encanta, seduz
e apaixona seus filhos naturais e adotivos. Não há quem por aqui passe que não
queira retornar um dia. Não há quem daqui saia, que não conte as horas de
voltar.
Hoje,
no seu aniversário de 166 anos, ao render minha homenagem, renovo meus
sentimentos de carinho, afeto, orgulho e eterna paixão pela minha querida
Aracaju.
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