20 abril 2021

Das Kapital

Numa boquinha de noite, Frederico chama Karl e diz: man, prestenção, os cara tão armando pra cima de nóis. Observe a origem da família, da propriedade privada e, agora estão criando um negoço chamado Estado. Isso não me cheira bem. Tô achando que esse tal vai legitimar a acumulação de riquezas por meio de roubos e violência em nome dos malaco.

Karl foi pra casa encucado com aquele papo de Fred. Jenny o esperava no portão. Recebeu o esposo com um beijinho e duas saliências, mas Karl estava mais interessado no cuscuz com carne frita que Jenny havia preparado. Ansioso e com as tripas roncando, não via a hora de bater aquela massa côncava amarelada.

No dia seguinte Karl já nem foi mais trabalhar. Se enfurnou na biblioteca e começou a teorizar sobre aquela nova realidade. De vez em quando Jenny aparecia na porta de baby doll, se espreguiçando toda e ele nem xite. Só falava com Frederico e assim mesmo, pelo celular. Passou-se muito tempo até que Karl concluísse sua teoria, seus escritos, seus estudos.

A grosso modo, para Karl, o Estado, visto pelo viés classista e aspecto econômico, é o instrumento político da classe dominante para manter o domínio sobre a sociedade, ou seja, a organização política que visa a defesa dos detentores dos meios de produção, na função de concentrar toda a riqueza produzida em sacrifício da classe trabalhadora. Assim ele teoriza sobre a relação entre infraestrutura e superestrutura. O conjunto das relações de produção, a produção da vida material, a base econômica de toda a sociedade, representa a infraestrutura. Já o conjunto formado pelas instituições jurídicas, políticas e pela própria ideologia reinante em cada sociedade compõe a superestrutura e através dos dois, o processo de dominação.

Nem preciso dizer que essa teoria do Karl e Fred tacou fogo no cabaré capitalista. Imediatamente o Véio da Havan juntou seus amigos da Fiesp, mais os Faria Limers, marcaram um jantar à luz de velas com Bolsonaro e contrataram Max Weber, um professor de sociologia da USP, fundador do PSDB, para contestar e desqualificar as teses do socialismo cientifico. Weber que não é besta, contratou a famosa economista Miriam Leitão para palestrar sobre o atualíssimo Consenso de Washington. A finada Leda Nagle foi convocada às pressas e voltou das profundezas para fazer assessoria de imprensa. Esta tratou de articular algumas entrevistas importantes do sociólogo com os jornalistas Pedro Poligrafo Bial e Vera Escolha Difícil Magalhães. Com tanta gente boa atuando juntas, não foi difícil acabar com negócio de marxismo por essas bandas e é nesse ambiente que se dá o processo de escolha dos governantes aqui no Brasil.  

Karl e Frederico erraram quando não previram que o Brasil é outro patamar. Aqui não existe esse negócio de polarização. Luta de classes? Não. Isso é coisa de baderneiros, nós somos cordiais. Fla x Flu nem existe. O GRENAL mobiliza os gaúchos tanto quanto um Pelotas x Caxias. BA VI? É coisa que colocaram na sua cabeça. PSD x UDN, Emilinha x Marlene, tudo ficção. Nós odiamos polarizar.

Há uma galera aí querendo polarizar a política entre Direita x Esquerda. Não sei como farão. O Brasil é tão avançado nessa questão ideológica que por aqui nós nunca tivemos a Direita. O nosso espectro ideológico finda no Centrão. Observem que Centrão é mais que Centro. Cabe mais. Cabe tudo.

O Brasil é também um exemplo quando se trata de religião. Somos um dos maiores países cristãos do planeta, mas Jesus Cristo é questionado diariamente:

- Ain, Jesus, você não pode dar o peixe, tem que ensinar a pescar. Você, sei não.

          - Também, Jesus deu o pão e deu uma desaparecidinha... 

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