Tenho
a impressão que hoje em dia, mais que em outros tempos, os animais fazem parte
das vidas das pessoas e passaram a serem tratados como familiares queridos de
seus donos. Uma vizinha perdeu sua cachorrinha poodle há uns três anos e nunca
mais foi a mesma. Se trancou num eterno luto.
Lembro
que minha mãe adorava gatos. Sempre tinha gatos lá em casa. Assim mesmo no
plural. Todos com um nome registrado. Eram homenagens a seus atores e atrizes
preferidas: Marlon, Tony, Maitê, Glória e por aí vai. Eram criados soltos em um
ambiente de total liberdade. Gatos de origem humilde que costumamos chamar de
vira-latas. Não eram desses gatos de raça, preguiçosos, mofinos que adoecem com
qualquer ventinho e passam o dia inteiro deitado no sofá. Os gatos da minha mãe
pediam comida quando estavam com fome e se por alguma razão ela não desse, eles
iam à caça. Interessante que ela conversava com eles e todos se entendiam.
Quando estavam no cio sumiam de casa. Alguns desapareciam para sempre, outros voltavam
depois de meses, magros e feridos. Recebiam um sermão daqueles e depois tinham
seus ferimentos tratados com aquele jeitinho cuidadoso que só as mães têm.
Quando algum deles morria era um tempo de choros e luto. O quintal lá de casa
parecia um cemitério. Cheio de covas, cruzinhas com o nome do finado, e flores
todos os domingos. Acho que é para evitar esse sofrimento que eu nunca quis
criar animais domésticos.
Aqui
no condomínio onde moro há mais cachorros e gatos que gente. É como se as
pessoas não encontrassem mais nos seus semelhantes o amor fraterno e o
humanismo de que tanto necessitamos. Buscamos, portanto, nos animais o afeto
que a vida moderna nos tem tirado. E parece ser exatamente por essa ausência de
humanismo que as pessoas têm com seus animais uma relação utilitária. Querem
deles todo o carinho, o balançar de rabo, o roçar de seus corpos, mas não dão
reciprocidade com os cuidados devidos. Até os acariciam, levam cotidianamente
ao veterinário, dão-lhes ração da boa, mas os trata como gente e é aí onde reside
o problema. Eles não são gente e por isso precisam ser tratados de outro jeito.
O
cachorro de um dos meus vizinhos late de dia a noite. Está claro que não é de
contente com a vida. O bichinho está sofrendo e seu dono ainda não entendeu
isso. Além de estar fazendo o doguinho sofrer, o infeliz dono não percebeu que
incomoda toda a vizinhança.
Do
outro lado da rua, um morador bolsonarista ensinou seu papagaio a cantar o hino
nacional. Imaginem o sofrimento do bichinho. Além de viver em cativeiro – o que
é proibido por lei -, andar vestido de Véio da Havan, ainda ser obrigado a
cantar o hino. Um dia desses passei na frente da casa e me comprometi com o
Louro que assim que o Ibama voltar a cumprir o seu verdadeiro papel, seu drama
terá fim. Está perto.
Eu
gosto de passarinhos. Plantei árvores frutíferas no meu quintal onde eles se
alimentam, fazem ninhos e festa toda manhã e ao entardecer. São canários
cantores, cabeças, sanhaços e bem-te-vís. Um Bem-te-vi desses ficou meu amigo.
Toda manhã, as 5h pontualmente, ele vai para a janela do meu quarto e me acorda.
Levanto, abro a janela, conversamos um pouco. Ele voa rumo a seus afazeres e eu
saio para a minha caminhada na praia. Lá pelo meio dia, uma da tarde, sol a
pino, ele volta para seu costumeiro mergulho na piscina. Um refresco para
amenizar o calor. Conversamos mais um pouco, ele faz pose para fotos e volta a
cuidar de suas coisas. Vendo meu amigo desaparecendo no horizonte, penso: se eu
fosse passarinho queria ser um Bem-te-vi. Andar por um jardim em flor chamando
os bichos de amor.
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