Aproveitei
os dias de descanso pós eleições para pôr a leitura em dia. Sou um contumaz leitor
de livros que os últimos nove meses de atividades compromissadas com a campanha
eleitoral, gestaram em mim um indivíduo em crise de abstinência.
Delirium
tremens, nem deu tempo de ir à livraria em busca das muitas novidades já
anotadas em minha mente. Comecei, na primeira semana de novembro, relendo O
Homem que Amava os Cachorros, do cubano Leonardo Padura, e Vinicius Portenho,
um livro da jornalista argentina Liana Wenner, sobre a temporada em que
Vinicius de Moraes viveu em Buenos Aires e Montevidéu nos anos 1960 e 1970 e que
me foi presenteado pelo querido amigo Clínio Guimarães.
Controlada
a ansiedade fui a livraria e reabasteci minha biblioteca. O Terceiro Excluído,
de Fernando Haddad, A Mão e a Luva, do cientista político Alberto Carlos
Almeida – este, uma indicação do amigo, irmão e filósofo de estimação, Cássio
Murilo -, e Wood Allen, A Autobiografia.
O gosto
pela leitura é uma influência da minha mãe. Professora da escola pública em
Capela, foi ela quem me ensinou as primeiras letras, antes mesmo da idade
escolar da época. Como exercício, me fazia ler de um tudo. De bula de remédio a
Machado de Assis. Tomei gosto e me tornei um viciado em leitura.
Gosto
de biografias e, ao contrário daquele juiz parcial, tosco e semianalfabeto, me lembro
de todas que li. Para provar, destaco algumas das inesquecíveis: Chatô, O rei
do Brasil, de Fernando Morais; Antônio Carlos Jobim, de Sérgio Cabral; Getúlio,
de Lira Neto; Marighella, de Mário Magalhães; Pureza Fatal, biografia de
Robespierre, por Ruth Scurr, entre tantas outras.
Das autobiografias
eu tenho um pé atras. Há nelas, via de regra, uma certa necessidade, humana - até
entendo -, de se vangloriar. Exaltar suas virtudes e abrandar, até mesmo camuflar,
suas imperfeições. Mas, mesmo aí, temos exceções. Palimpsesto, autobiografia de
Gore Vidal, é uma delas. A reconhecida habilidade de Vidal como contador de
histórias e analista irreverente dos fatos não poupa sua família nem seus
amigos, nem a si mesmo.
Outra,
acabo de ler agora minutos antes de começar a escrever esse texto, é a
autobiografia de Woody Allen. Li de uma única sentada. Avidamente. Voltarei a
lê-la novamente. Muitas vezes, tenho certeza. Porque sou assim quando gosto de
uma coisa. Não daqui a alguns dias, mas em seguida. Porque li com tanta intensidade
que não deu tempo de fazer as devidas anotações.
É
preciso dizer que sou admirador, fã, do cineasta Woody Allen. Assisti a todos
os seus filmes. E a sua vida, contada por ele no livro, é tão interessante quanto
seus personagens neuróticos, frágeis, céticos e, singularmente, bem-humorado.
Não
farei spoiler, pois sugiro que o leiam. Numa história que teria tudo para ser dramática,
há humor em todas as páginas.