“Está
me olhando por quê? Eu sou normal!” Era com esse bordão que o ator e humorista
Francisco Milani brincava com o conceito de normalidade das pessoas no programa
Viva o Gordo, capitaneado por Jô Soares.
Embora
os seres humanos tenham características semelhantes, cada indivíduo carrega sua
própria existência biopsíquica. É possível que aquele cara de cabelo rastafari
ache o nerd de cabelo engomadinho, estranho. E vice-versa. Ou seja, nesse mundo
de estranhos, o estranho é sempre o outro.
Lembrei
do personagem de Milani quando vi esses dias um monte de gente estranha,
estranhando uma fala do presidente Lula que, numa entrevista, disse que só iria
ficar bem quando aplicasse o parágrafo D no ex-juiz Sérgio Moro. Pronto. Foi o
suficiente para que todos os estranhos de Terra Brasilis se autodeclarassem
normais e, como tais, solicitassem a internação do Lula na Casa Verde do Dr.
Simão Bacamarte.
Os
comentaristas da imprensa, somados aos especialistas em generalidades dos
grupos de WhatsApp, formaram um grande tribunal onde, como autênticos
jurisconfusos, formulavam libelos e teses que justificariam a camisa de força.
Insensíveis aos argumentos de que o presidente, diante de todo o sofrimento e
injustiças sofridas pela ação deletéria praticada por um ex-juiz parcial, tinha
direito àquela reação, os ditos normais rejeitavam a tese, sob a alegação de
que o presidente de uma república das bananas como a nossa, não pode agir com o
fígado, falar termos ofensivos a outrem - ainda que esse outrem seja um salafrário
juramentado - e muito menos usar palavras de baixo calão.
Quando
alguém lembrou de que haviam os precedentes de um presidente, elogiosamente
chamado de “Principe da Sociologia”, que chamara os aposentados de vagabundos, e
de um outro que, talvez num momento de dúvida de sua masculinidade alfa,
propagandeou a cor de seus próprios quibas, os autodeclarados normais
indeferiram a petição alegando prescrição dos crimes citados.
Curioso
é que os normais são, invariavelmente, devotos de Cristo. E, talvez por
coincidência, uma das cenas bíblicas menos difundida pelos cristãos é aquela em
que Jesus Cristo expulsa a tapas os vendedores que negociavam bugigangas na
Casa do Senhor. Imaginem aquele bom rapaz, símbolo do amor, da paz e da
resiliência, o cara que dava a cara a tapa e que levava amor onde havia ódio, um
dia se emputeceu e baixou a madeira no lombo dos Vendilhões do Templo (João
2,13-25).
Visivelmente
irritado Jesus bradou aos ouvidos dos mercadores: “Tirem isso daqui! A casa do
meu pai não é lugar para ficar vendendo e comprando coisas!” e meteu a borduna.
E pensam que foi só uma vezinha? Nan, nan, nin, nan não. Foram duas vezes. Três
anos depois da primeira surra, o Homem de Nazaré comeu os vendedores na porrada
de novo. É pouco ou quer mais?
Diante
desse histórico uma pergunta que não me quer calar: como agiria o Nazareno,
depois de ressuscitado, mãos desatadas, feridas ainda doídas, diante de Pilatos
e dos vendilhões de sentenças? Daria a outra face?
Até hoje não sei o que Lula disse pra causar essa celeuma toda...
ResponderExcluirPois é, Rosane.
ExcluirObrigado por comentar.
Parabéns caríssimo Silvio pelo conteúdo, estilo e mensagem desse artigo, crônica ou manifesto em defesa de um lider injustiçado pelo mais gravoso pecado de uma "justiça simbolicamente cega" , qual seja a parcialidade vil de seus julgadores. Abraços fraternos.
ResponderExcluirEsqueci de identificar: Manoel Moacir.
ResponderExcluirObrigado, caro Moacir, pelas generosas palavras e pelo comentário.
ExcluirForte abraço
Achei fantástico o texto. Parabéns
ResponderExcluirValeu, Thieryson, obrigado.
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