Conforme
costumo cantar em verso e prosa, eu sou da Capela, a Rainha dos Tabuleiros.
Vivi minha infância e adolescência entre a Lagoa do Meio e a sede do município.
Conheci cada palmo daqueles tabuleiros que iam do Favela até o Campo da Aviação
por um lado, e até as Pedras pelo outro. Seus imensos e planos prados eram o
melhor lugar para bater pelada com a molecada, meus vizinhos da Rua do Quiço. Catar
cajuí, – um pequeno e azedo caju – era outra atividade certa e prazerosa, pois
significava o melhor tira-gosto para acompanhar a meiota de Taquari que Luís
Bicho, o mais velho entre nós, já “de maior”, podia comprar na bodega de seu
Fiínho.
Naqueles
tempos os tabuleiros da Capela eram um território quase sagrado, por isso
chamado de Tabuleiros de Nossa Senhora. Assim, apesar de haver à época quatro
usinas (Proveito, Vassouras, Santa Clara e Pedras) em atividade no município,
nenhuma ousava plantar cana ali. Hoje em dia não há mais usinas de açúcar na
Capela, mas também não há mais tabuleiros. O progresso levou os cajuís da minha
infância/adolescência e tudo virou um imenso canavial.
Do
outro lado da cidade reinava absoluta e misteriosa a Mata do Junco. Um dos
poucos fragmentos que sobraram da Mata Atlântica em Sergipe e é o berço do Rio Lagartixo
que abastece com suas águas os capelenses. Rica em biodiversidade, abriga 129
espécie de aves, além de outras espécies de animais, inclusive ameaçadas de
extinção, como o macaco-guigó.
A Mata
do Junco já ia tomando o mesmo fim dos Tabuleiros de Nossa Senhora quando o
então governador Marcelo Déda criou o Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco. Através
do Decreto 24.944 de 26 de dezembro de 2007, o governador garantia a proteção daquele
pedaço de Mata Atlântica e seus recursos naturais, especialmente as nascentes
do Riacho Lagartixo e o macaco guigó (Callicebus coimbrai), além de
potencializar a realização de pesquisas científicas, educação ambiental e
ecoturismo. A reserva contém aproximadamente 894,76 hectares, sendo assim o
segundo maior remanescente de Mata Atlântica de Sergipe.
Hoje
cedo ouço da voz do conterrâneo Lizaldo Vieira, ambientalista e militante
social, um SOS Mata do Junco. Segundo ele a Mata estaria sendo destruída por
caçadores e madeireiros, sem nenhum óbice ou resistência do poder público. Isso
é resultado direto de um modelo de governo retrogrado, ultrapassado, que não
respeita a natureza e é descompromissado com a sustentabilidade tão cobrada
pela sociedade contemporânea. Só isso explica a extinção da Secretaria de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos pelo governo passado e ao que parece, política
seguida pelo atual governo.
Em
defesa da Mata do Junco e da vida, as entidades da sociedade civil,
ambientalistas, sociedade sergipana e, especialmente, capelense, precisam se
mobilizar e cobrar da prefeita, vereadores, deputados e, fundamentalmente do
governador do estado, uma ação firme no sentido de enfrentar o atual descaso e
abandono da unidade do Refúgio de Vida Silvestre e consequentemente combater
com rigor os predadores, protegendo assim o Lagartixo, a Mata do Junco e a
natureza.
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