25 maio 2023

O sonho acabou, mas ainda tem pão doce

 

Em 2016, com o impeachment golpista sobre a presidenta Dilma Roussef, o Brasil sofreu uma grande ruptura. Do ponto de vista da soberania nacional, muito mais arrasador que o golpe de 1964. Os militares que assaltaram e ficaram no poder durante 21 anos, eram sanguinários, mataram, torturaram e exilaram brasileiros e brasileiras e por tudo isso não merecem perdão nem a anistia que tiveram. Apesar de autoritário, os governos militares tinham caráter nacionalista. Já o golpe de 2016 foi de caráter entreguista. Lesa pátria.

Assim como o golpe de 64 começou tramado ainda sob o governo Vargas, o de 16 começou no final da primeira década dos anos 2000 quando o Brasil descobriu o pré-sal. O império ianque não assistiria impassível ao nascimento de mais uma potência petrolífera na sua circunvizinhança e, muito menos, governado pela esquerda. Foi aí que começou a operar o golpe. Como não havia mais as condições para aquele modelo de golpe tradicional usado nos anos 60 e 70, eles usaram um novo método já testado em outros países como, por exemplo, o Egito, onde estimulou o caos e promoveu a Primavera Árabe e replicou o mesmo modelo na Ucrânia que levou o nazista Zelensky ao poder.

O modus operandi desse novo modelo usa recursos da USAID, que é um instrumento da National Endowment for Democracy, das fundações Ford, Soros entre outras, para financiar jornalistas, veículos de comunicação e ong’s, para estimularem pequenas insatisfações transformando-as em grandes manifestações de massas.

Foi assim que no Brasil, uma reação ao aumento de vinte centavos na tarifa do transporte público em São Paulo virou uma grande manifestação popular denominada Jornadas de Junho. Mais, o que era uma mobilização contra um aumento da passagem de ônibus, evoluiu para palavras de ordem como Não Vai Ter Copa entre outras menos compreensíveis, despolitizadas e culminando com a classe média nos estádios xingando a presidente da república com palavras de baixo calão. Note-se que todas essas manifestações começaram e se legitimaram sob o comando de lideranças de setores de uma esquerda ingênua, despolitizada, sem consciência de classe e financiada pelas fundações citadas acima. Os famosos inocentes úteis, que depois, quando viram o estrago, se arrependeram, voltaram ao ninho, mas aí já era tarde. O golpe já estava dado.

Convém dizer, que outros instrumentos foram usados para a consolidação do golpe. O judiciário, a imprensa, delegados e delegadas, udenistas em geral, a classe média e até alguns autoproclamados progressistas aderiram ao movimento lavajatista. O então juiz Sérgio Moro, uma espécie de Savonarola dos trópicos, juntou uma plêiade de comparsas do Ministério Público Federal formando uma força tarefa para dar cifras final ao caos que propiciaria finalmente o golpe pretendido. Desta vez deram o pomposo nome de impeachment. Essa ação da Lava a Jato acabou com empresas de engenharia nacional quem competiam no mercado internacional, desempregando milhares de trabalhadores. Desmoralizou a Petrobras, uma empresa que competia palmo a palmo com as grandes do setor no mundo e que já entrava no mercado norte-americano comprando lá um refinaria. Estava claro para quem tinha olhos para ver e cabeça para pensar, o papel da Lava a Jato nesse plano emtreguista.

O governo golpista que sucede Dilma, com Temer a frente feito um espantalho, entrega o pré-sal para os patrocinadores do golpe, ao criar a tal “teto de gastos”, entrega metade do orçamento público para o mercado financeiro e se deixa liderar por uma corja no Congresso que sequestra a outra metade do orçamento e transforma o nosso sistema de governo num peculiar Presidencialismo de Coalizão onde o Congresso executa o orçamento através de emendas, não é cobrado por resultados em projetos de políticas públicas, emendam propostas do governo a ponto de modificar seus objetivos, e garroteia o executivo. Ou seja, o desmonte foi tão grande que se foi a grande vantagem de nossa indústria, a energia barata. O país não produz acúmulo suficiente em qualquer área para gerar empregos de qualidade que justifiquem educação superior, e o fato de ser refém de juros escorchantes impede o investimento necessário em educação pública.

É esse o Brasil do Lula 3. Com sua habitual habilidade de negociar e enfrentar adversidades, ainda que o Congresso lhe tome os anéis, ele vai preservando os dedos. Cede quando faz um “aracabouço fiscal” que é um “teto de gastos” menos pior, mas ganha os recursos para programas que visam matar a fome dos pobres como o Bolsa Família entre outros. Já que o estado brasileiro perdeu sua capacidade de investir, ele está de novo rodando o mundo atras de investimentos externos. 

Eu sei que muitos dos seus eleitores esperavam de Lula uma revolução. Um chute no balde. O céu na terra, depois do inferno vivido no pós golpe. São pessoas fruto de uma educação que forma para passar em concurso mais não forma cidadãos para pensarem. Sequer entenderam o nosso sistema de governo e por isso acha que tudo se resolve na simples vontade política. Não conseguem entender a importância da correlação de forças. Não demorarão e logo estarão nas ruas cobrando do Lula e votando nos Liras da vida.

22 maio 2023

A cadela do fascismo

 

Pela enésima vez o brasileiro Vinicius Júnior, atleta do Real Madrid, é vítima de manifestações racistas por parte de torcedores espanhóis. Chama atenção a completa ausência de iniciativas institucionais para coibir com a devida dureza esses atos criminosos. A liga que promove o campeonato espanhol é presidida por Javier Tebas, uma espécie de bolsonarista ibérico, um fascista convicto ligado ao Vox, partido de extrema direita da espanhola, seguidor das ideias do sanguinário ditador Francisco Franco, por isso, não surpreende a ausência de medidas para parar com a atitude dos bárbaros.

Em se tratando de europeus, esse comportamento não é nenhuma novidade. Há uma tradicional e generalizada prática de xenofobia, inclusive contra alguns dos seus, (des)qualificados como intrusos. É o caso dos turcos, cujo país se localiza em dois continentes: Ásia e uma parte menor de seu território, na Europa.

Há um livro chamado Cabeça de Turco, escrito pelo jornalista alemão Günter Wallraff, publicado na segunda metade dos anos 80, que trata sobretudo das condições de trabalho dos estrangeiros na Alemanha, que, em especial os da Turquia, não possuem emprego estável, recebem salários bem menores do que os operários alemães e trabalham em funções de altíssima periculosidade, sem receber um adicional por isso nem usar equipamentos de proteção.

Na época da investigação (1983-85), mesmo compondo uma população significativa na Alemanha, os turcos são quase invisíveis na sociedade, visto que sofrem discriminação e não participam da sociedade alemã como cidadãos plenos. Muitos deles não têm permissão para ficar no país e vivem sem lugar fixo, geralmente em áreas com estrutura precária.

Os registros desfazem a imagem da Alemanha perfeita, mostrando a xenofobia e a corrupção de inúmeras empresas que tiram proveito da mão de obra barata estrangeira. O livro de Günter se resume ao tratamento dado aos turcos, agora imagine o que acontece com emigrantes africanos, asiáticos, latinos, etc. Infelizmente a cultura da supremacia europeia, não morreu com a derrota do nazifascismo na década de 40 do século passado. Ela foi levada para o resto do mundo através do colonialismo exercido, influenciando outras culturas.

No Brasil, por exemplo, há uma elite branca, rica, ignara, aculturada e fiel seguidora do eurocentrismo, que reproduz a mesma prática fascista de discriminação racial, escravismo e de todo o tipo de preconceito. O que acontece com Vinicius Júnior na Europa, acontece cotidianamente nos estádios brasileiros. Olhe como a imprensa esportiva trata os times nordestinos. Vários exemplos de jogadores negros sendo agredidos com os mesmos adjetivos com que Vinicius foi tratado pelos torcedores espanhóis. Recentemente a torcida do Corinthians entoou cantos homofóbicos contra o time do São Paulo. A indignação da imprensa se resume a uma ou outra fala de repúdio. Os dirigentes de federações e clubes ignoram solenemente. Os próprios atletas, colegas dos agredidos, silenciam de forma ensurdecedora. Nenhuma medida para intimidar e conter o preconceito é tomada institucionalmente. E assim, com o silêncio conivente dos que podem e o sofrimento solitário dos vitimados, se abre o abismo.

18 maio 2023

O agro é ogro

            

Uma elite conservadora, perversa e, principalmente, patrimonialista, transforma o Brasil como o único país do mundo onde a reforma agrária ganha contornos ideológicos e é propagandeada como uma pauta da esquerda.

Nos EUA, país onde o liberalismo é farol para o resto do mundo, a reforma agrária foi feita e sancionada pelo presidente Lincoln, no século 19, fato que se transformou num marco daquele país como nação desenvolvida.

No Brasil, os ogros do agro, aqueles que sonegam impostos, grilam terras, cometem crime ambiental e trabalho escravo, instam seus serviçais na Câmara dos Deputados a uma insana guerra política contra a reforma agrária, ao instalarem a CPI do MST sem fato determinado e sem crime cometido.

Conforme diz a nota divulgada pela Associação Juízas e Juízes para a Democracia (AJD) a CPI tem “duvidosa constitucionalidade”, pois além de não ter fato determinado apresenta a indevida finalidade de investigar(?) pessoa jurídica de direito privado. A nota acrescenta ainda que a CPI significa “mais um passo no processo protagonizado pela direita neoliberal de perseguição, descrédito e demonização dos movimentos sociais”.



Gestos valem mais que palavras

  Vejam como o governo de Sergipe vai construindo narrativas para justificar suas reais intenções e como elas induzem a opinião pública ao e...