22 maio 2023

A cadela do fascismo

 

Pela enésima vez o brasileiro Vinicius Júnior, atleta do Real Madrid, é vítima de manifestações racistas por parte de torcedores espanhóis. Chama atenção a completa ausência de iniciativas institucionais para coibir com a devida dureza esses atos criminosos. A liga que promove o campeonato espanhol é presidida por Javier Tebas, uma espécie de bolsonarista ibérico, um fascista convicto ligado ao Vox, partido de extrema direita da espanhola, seguidor das ideias do sanguinário ditador Francisco Franco, por isso, não surpreende a ausência de medidas para parar com a atitude dos bárbaros.

Em se tratando de europeus, esse comportamento não é nenhuma novidade. Há uma tradicional e generalizada prática de xenofobia, inclusive contra alguns dos seus, (des)qualificados como intrusos. É o caso dos turcos, cujo país se localiza em dois continentes: Ásia e uma parte menor de seu território, na Europa.

Há um livro chamado Cabeça de Turco, escrito pelo jornalista alemão Günter Wallraff, publicado na segunda metade dos anos 80, que trata sobretudo das condições de trabalho dos estrangeiros na Alemanha, que, em especial os da Turquia, não possuem emprego estável, recebem salários bem menores do que os operários alemães e trabalham em funções de altíssima periculosidade, sem receber um adicional por isso nem usar equipamentos de proteção.

Na época da investigação (1983-85), mesmo compondo uma população significativa na Alemanha, os turcos são quase invisíveis na sociedade, visto que sofrem discriminação e não participam da sociedade alemã como cidadãos plenos. Muitos deles não têm permissão para ficar no país e vivem sem lugar fixo, geralmente em áreas com estrutura precária.

Os registros desfazem a imagem da Alemanha perfeita, mostrando a xenofobia e a corrupção de inúmeras empresas que tiram proveito da mão de obra barata estrangeira. O livro de Günter se resume ao tratamento dado aos turcos, agora imagine o que acontece com emigrantes africanos, asiáticos, latinos, etc. Infelizmente a cultura da supremacia europeia, não morreu com a derrota do nazifascismo na década de 40 do século passado. Ela foi levada para o resto do mundo através do colonialismo exercido, influenciando outras culturas.

No Brasil, por exemplo, há uma elite branca, rica, ignara, aculturada e fiel seguidora do eurocentrismo, que reproduz a mesma prática fascista de discriminação racial, escravismo e de todo o tipo de preconceito. O que acontece com Vinicius Júnior na Europa, acontece cotidianamente nos estádios brasileiros. Olhe como a imprensa esportiva trata os times nordestinos. Vários exemplos de jogadores negros sendo agredidos com os mesmos adjetivos com que Vinicius foi tratado pelos torcedores espanhóis. Recentemente a torcida do Corinthians entoou cantos homofóbicos contra o time do São Paulo. A indignação da imprensa se resume a uma ou outra fala de repúdio. Os dirigentes de federações e clubes ignoram solenemente. Os próprios atletas, colegas dos agredidos, silenciam de forma ensurdecedora. Nenhuma medida para intimidar e conter o preconceito é tomada institucionalmente. E assim, com o silêncio conivente dos que podem e o sofrimento solitário dos vitimados, se abre o abismo.

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