Ontem,
finalmente, tivemos um momento de forró a altura das tradições nordestina dos
festejos juninos. Durante aproximadamente duas horas, o sanfoneiro Flávio José
brindou o público do Arraiá do Povo com o seu bom e conhecido repertório e
ainda nos brindou com clássicos do Rei Luiz Gonzaga e do não menos majestoso
Trio Nordestino.
Antes
do show, enquanto o roadie preparava o palco para Flávio e sua banda, o locutor
destilava adjetivos politicamente incorretos ao anunciar que “o velhinho” – se
referindo a Flávio José - já estava pronto para entrar em cena. Ou ainda quando
se referia ao público presente chamando-o de veteranos. Atitude desnecessária e
reveladora de despreparo de quem representava ali algo além de si mesmo.
Afinal, era a voz do estado que organizava a bonita festa.
Sim, a
plateia, apesar de muitos jovens presentes, era majoritariamente composta por
uma geração mais madura e que viveu outros tempos de um São João raiz, genuíno,
das fogueiras, do milho, da canjica, do quentão e do forró onde os casais
dançavam agarradinhos. E foi isso que vimos ontem. Jovens e “veteranos”, como
em outros tempos, dançavam, cantavam e sorriam como se vivessem um momento de
encantamento. O único “arrocha” que havia era quando o passo do xote exigia uma
maior aproximação dos corpos dos pares dançantes. Piseiro? Só quando ao dançar
o xaxado se fazia necessário o pisar forte e variado no paralelepípedo batido
da praça.
Sim,
amigos, depois de ver na programação dos nossos festejos mais tradicionais,
tantos atentados a nossa cultura, e de quase perder a esperança, vi ontem um
milagre de São Pedro. Como dizia o sábio e eloquente povo da Lagoa do Meio,
tivemos finalmente um “forró de mermo”. Um forró daqueles que o nosso Rogério
eternizou nos versos do clássico Sergipe é o País do Forró:
Chega,
pega a nêga e dança, entra no xodó.
É a
noite inteira essa brincadeira é chamego só.
Comigo
ontem, além da minha “morena”, parceira de salões desde que os primeiros
acordes da sanfona de Flávio José ganharam o mundo, estava meu filho, um garoto,
rapaz feito, roqueiro raiz, que me surpreendeu ao insistir em ir conosco ver o
show na praça. É dele a frase que resume todo o sentimento que me assume no São
João dessa quadra: “Flávio José é a abertura e o encerramento oficial do forró.
O resto é farra”.
Por isso, quando Flávio José,
já caminhando para o fim do show, perguntou em voz alta à produção quem viria
depois dele para se apresentar, houve um breve silêncio na plateia, surpresa
com a pergunta pois também não sabia. Eu, naquele átimo de tempo, lembrei da
célebre frase de Luís XV, rei de França, e gritei alto:
- Depois
de você, o dilúvio.