19 setembro 2023

Gestos valem mais que palavras

 

Vejam como o governo de Sergipe vai construindo narrativas para justificar suas reais intenções e como elas induzem a opinião pública ao erro.

Li hoje na coluna Plenário, do conceituado jornalista Diógenes Brayner, onde, depois de ouvir o governador sobre a Fundação de Saúde, o jornalista é induzido a concluir que: “Ainda não há uma solução que resolva o problema, lembrando que o Ministério Público determinou a extinção da Fundação há dez anos.”

Primeira observação: o Ministério Público não determina. O MP ajuíza a ação. Quem determina é o Poder Judiciário depois que decide, e este não determinou em nenhum momento a extinção das Fundações.

Segunda observação: a narrativa governamental aposta mais uma vez na desinformação, pois não revela a verdade completa. Vamos a ela, então.

No caso em tela o MP, há anos, ajuizou uma ação civil pública, pedindo a extinção da Fundações de Saúde, questionando as leis que as criaram. Tempos depois, na mesma linha, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), entrou com uma ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF, alegando a inconstitucionalidade da lei que criou as Fundações de Saúde em Sergipe. Essa ADIN foi julgada recentemente e o Supremo decidiu por UNANIMIDADE, como IMPROCEDENTE. Ou seja, as Fundações de Saúde de Sergipe são legais e legítimas.

Mais: anos depois de criadas as Fundações de Saúde em Sergipe, sob governo Marcelo Déda, e pelas mãos do então secretário de saúde, Rogério Carvalho, o modelo serviu de referência para o governo federal criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), por meio da Lei nº 12.550, de 15 de dezembro de 2011, como uma empresa pública de direito privado (tal qual as nossas Fundações de Saúde), vinculada ao Ministério da Educação (MEC), com a finalidade de prestar serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio diagnóstico e terapêutico à comunidade, assim como prestar às instituições públicas federais de ensino ou instituições congêneres serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à extensão, ao ensino-aprendizagem e à formação de pessoas no campo da saúde pública. 

Trata-se da maior rede de hospitais públicos do Brasil. Suas atividades unem dois dos maiores desafios do país, educação e saúde, melhorando a qualidade de vida de milhões de brasileiros, por meio da atuação de uma rede que inclui o órgão central da empresa e 40 Hospitais Universitários Federais (HUFs), que exercem a função de centros de referência de média e alta complexidade para o Sistema Único de Saúde (SUS) e um papel de destaque para a sociedade. 

Portanto, diante das narrativas falaciosas e cheias de segundas intenções, é bom a sociedade sergipana, especialmente servidores das Fundações, e usuários do SUS, estarem atentos, fortes e preparados para uma resposta ao governador na linha de uma das blagues do grande e saudoso comunicador Hilton Lopes: “Nem vem de lagartixa, pois estamos de azulejo”.

15 setembro 2023

Show dos Horrores

 

As atrações dos circos não foram sempre animais treinados, malabaristas e palhaços. No fim do século 19 e início do século 20, anomalias humanas foram destaques nos shows, que ficaram conhecidos como Show dos Horrores (Freak Shows). Esses shows eram muito populares nos EUA, e tinham no elenco, anões, albinos e qualquer tipo de pessoa que fosse deformada por doenças.

O fim desses shows, nos meados do século passado, se deu com o avanço da medicina e também com as mudanças na cultura popular e do entretenimento. As anomalias foram explicadas como doenças ou mutações genéticas e, então, a sociedade começou a ver essas pessoas como iguais, e não bichos. Além disso, foi proibida a exibição dessas pessoas em show.

Pelo que vimos ontem, durante o julgamento das primeiras ações penais sobre os atos antidemocráticos de 08 de janeiro, os advogados bolsonaristas, na defesa (?) dos réus, buchas de canhão do pretendido golpe, reeditaram uma hilariante sessão do velho e ultrapassado Show dos Horrores.

Um desses protagonistas, o causídico denominado Dr. Hery Kattwinkel, em sua delirante oratória, discorreu sobre a obra literária “O Pequeno Principe”, segundo o nobre jurisconfuso, de autoria do pai da ciência política, Maquiavel. Claro, o velho Nicolau, antes de fazer sucesso com O Principe, deve ter escrito um livro falando do primogênito do rei quando ainda garoto de calças curtas. Ao final de sua apresentação, pensando estar diante de uma plateia em delírio e pedindo bis, o Dr. Jekyll - perdão, esse personagem é de outro filme -, digo, Dr. Hery, ainda soltou um “... lavando as mãos assim como Afonso Pilatos”. Danou-se.

Cá com os meus botões, eu já vivia encafifado com o fato de o judiciário ter em seus quadros alguém tão inculto como o conje da dona Rosangela, mas depois do que vi e ouvi ontem, fico com a impressão de que o que seria uma exceção pode ser uma regra. Alô MEC, vamos prestar atenção na qualidade da formação dos novos estudantes? Dá para fiscalizar essas faculdades que estão formando esses advogados? Alô OAB? Dá para explicar como o Dotô Hery foi habilitado? Como diz aquele amigo jornalista, crendeuspai.

13 setembro 2023

Hoje é o Dia da Cachaça

 

Comemoramos hoje o dia dela: a pinga, a marvada, a danada. Assim que ela é carinhosamente chamada pelos seus devotados fãs.  A cachaça é uma bebida destilada originalmente brasileira e foi inventada lá pelos meados do século XVI por negros escravizados nas fazendas de cana e nos engenhos de açúcar, e durante muito tempo foi considerada uma bebida de baixo status, consumida apenas por escravos e pela população pobre. Os metidos a besta torciam o nariz para a branquinha, pois preferiam acompanhar o gosto dos bestas donos de engenho no gosto pelas bebidas da Côrte.  

Por falar em Côrte, no século XVII, Portugal proibiu a produção e a venda da birita. A razão era a redução do consumo da Bagaceira, um aguardente de restos de uva que, perto da nossa manguaça, não passa de um bagaço de laranja chupado.

Pois bem, essa medida da Côrte Portuguesa causou a insurreição dos Pés de Cana brasileiros que no dia 13 de setembro de 1661, tomaram o poder no Rio de Janeiro por cinco meses, num movimento que entrou para a história como a Revolta da Cachaça. Além de ser o primeiro movimento de enfrentamento aos colonizadores portugueses, segundo o conceituado historiador João de Caçulo, do Instituto Alambique de Ouro, a Revolta dos biriteiros brasileiros, inspirou a burguesia francesa, coisa de um século depois, a fazer uma revoluçãozinha por lá. Não duvido que tenha sido motivada pela proibição do Bordeaux.  

Para por fim a Revolta, a rainha Luísa de Gusmão, famosa por frequentar o Thales Ferraz antes da ventania, onde, acompanhada dos Inchadinhos do Xaxado, não dispensava uma talagada de Angico, liberou a produção e a comercialização da bebida no Brasil.

Aqui, a produção de cachaça é regulamentada por lei. O decreto publicado em 2003 determina que a bebida seja produzida com graduação alcoólica de 38 a 48% em volume, obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar. A bebida é, inclusive, o primeiro destilado das Américas — vindo antes da tequila, do rum e do Bourbon. Chique, não?

Calma, Cocada!

  Havia um tempo em que as reações às movimentações políticas do PT eram sutis, maduras, comedidas, porque não dizer, mais inteligentes. Atu...